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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O papel da microbiota intestinal na proteção contra a malária

Vitor R. R. de Mendonça
O grupo do Miguel Soares novamente nos surpreende com uma publicação de alto impacto. Saindo um pouco do tema (via de metabolismo do heme) normalmente pesquisado por este grupo de Portugal, Yilmaz e colaboradores tentam explicar o papel da microbiota intestinal na produção de anticorpos protetores contra a malária em modelo experimental e em uma coorte de indivíduos infectados pelo Plasmodium falciparum no Mali. 
Seres humanos não expressam o glicano Galα1-3Galβ1-4GlcNAc-R (α-gal) e possuem baixos níveis de anticorpos anti-α-gal em resposta a bactérias da microbiota intestinal, como a Klebsiella spp., Serratia spp., e Escherichia coli spp. Yilmaz et al. demonstrou que o P. falciparum, P. berghei e P. yoelli também expressam a α-gal e a produção de anticorpos anti-α-gal por indivíduos de uma região endêmica está associada a proteção contra a transmissão da malária.
Camundongos knockouts para o gene produtor da α-gal (UDP-galactose:β-galactoside-α1-3-galactosiltransferase) colonizados com a bactéria E. coli O86:B7, que expressa este glicano, produziram anticorpos IgM anti-α-gal com proteção a malária de modo similar ao observado nos indivíduos da área endêmica. Em ensaios de imunização com membranas de eritrócitos de coelho expressando α-gal ou α-gal sintético conjugado com BSA (bovine serum albumin), observou-se proteção quando os esporozoítos eram inoculados na pele, não acontecendo quando os mesmos eram inoculados na corrente sanguínea, sugerindo que o efeito protetor dos anticorpos anti-α-gal é exercido na derme. Além disso, o provável mecanismo de ação dessa proteção é por citotoxicidade mediada pelo complemento visto que camundongos knockout para o C3 perderam este efeito protetor. 
Vale ressaltar que, quando infectados, todos os camundongos tiveram malária cerebral experimental. Sugerindo, desta forma, que a imunização com a α-gal protege contra a transmissão da malária, mas não é eficaz na proteção contra formas graves da doença caso a infecção pelo Plasmodium ocorra. Adicionalmente, os anticorpos estarem abaixo do limiar necessário é a provável explicação dos autores sobre a proteção estéril observada em camundongos pelos anticorpos anti-α-gal não ser vista em seres humanos.
A proteção dos anticorpos anti-α-gal pode também ser importante em outros protozoários expressando a  α-gal , como a Leishmania spp. e o Trypanosoma spp., mas ainda permanece desconhecido. A comunidade cientifica agradece mais um artigo interessante sobre malária do Instituto Gulbenkian de Ciência. Sugiro a leitura para maiores detalhes. 

Referência:
Yilmaz B, Portugal S, Tran TM, et al. Gut Microbiota Elicits a Protective Immune Response against Malaria Transmission. Cell 2014;159(6):1277-1289. doi:10.1016/j.cell.2014.10.053.


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