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domingo, 18 de janeiro de 2015

Adoçantes artificiais não calóricos (NAS) ¨amigos ou inimigos?¨



Os adoçantes artificiais não calóricos (NAS) são um dos aditivos alimentares mais utilizados em todo o mundo. Nos últimos tempos, estes NAS tomaram grande popularidade devido ao seu baixo custo, baixo teor calórico e benefícios à saúde em relação aos açúcares calóricos. No entanto, um estudo recentemente publicado na revista Nature mostrou resultados interessantes.  O trabalho demonstra que estes NAS são capazes de regular a composição da microbiota intestinal em camundongos e seres humanos. No entanto, este processo pode ser acompanhado de intolerância à glicose e aumento da susceptibilidade de distúrbios metabólicos. Neste estudo foram utilizados camundongos que consumiram habitualmente formulações comerciais de edulcorantes como a sacarina, sucralose e aspartame adicionados na água e outro grupo de animais que consumiram apenas água ou água na presença de açúcares convencionais, tais como sacarose e glicose (grupo controle). Animais que consomem adoçantes artificiais apresentaram níveis aumentados de açúcar no sangue e uma marcada intolerância à glicose com respeito ao grupo controle. Alem disso os animais que beberam água na presença de NAS apresentaram uma composição da microbiota intestinal alterada em comparação ao grupo controle. O efeito de intolerância à glicose observada nestes animais foi completamente abolido quando estes animais foram tratados com antibióticos, o que mostra uma clara influência da microbiota nos efeitos metabólicos nocivos observados nestes camundongos. Para confirmar a influência da microbiota neste processo, os pesquisadores fizeram transplante de microbiota fecal de camundongos que consumiram NAS habitualmente e do grupo controle para animais ¨germ-free¨. Interessantemente, observou-se que os animais que tinham recebido a microbiota de camundongos que consumiram NAS apresentaram intolerância à glicose quando comparado ao grupo de animais que recebeu o transplante proveniente do grupo controle. Finalmente, para avaliar o efeito do NAS em humanos foi utilizado um grupo de 381 indivíduos não diabéticos, que geralmente consumiram NAS. Nesse sentido, descobriu-se que havia uma forte correlação entre o consumo de NAS e parâmetros clínicos associados à síndrome metabólica, como o aumento de peso corporal, altos níveis de glicose no sangue, intolerância à glicose marcada e altos níveis de hemoglobina glicosilada como indicativo de elevados níveis de glicose durante muito tempo no sangue desses indivíduos. Também foi feita uma análise da composição da microbiota fecal de 172 destes indivíduos sendo observada uma correlação entre o consumo de NAS e um aumento de alguns filos de bactérias, tais como enterobactérias, deltaproteobacteria e actinobactéria. Em conjunto, estes resultados sugerem que o consumo regular de NAS pode promover disbiose intestinal, que por sua vez leva a desordens metabólicas e o desenvolvimento de doenças metabólicas como a diabetes do tipo 2. Nesse contexto, seria bom refletir que estes NAS foram introduzidos em nossas dietas para controlar os níveis de glicose no sangue e diminuir a ingestão calórica. No entanto, coincidência ou não, observa-se que o inicio e popularização do consumo desses NAS na sociedade moderna aconteceu em paralelo ao aumento da epidemia de obesidade e diabetes. Desse modo, as entidades envolvidas com bem-estar nutricional da sociedade devem rever alguns conceitos relacionados à ¨boa nutrição¨, porque depois de ler este estudo vem à mente a dúvida: “os adoçantes artificiais não calóricas são nossos amigos ou inimigos?

Post de  Malena Martínez Pérez (mestranda do Laboratório de Imunoparasitologia, FMRP/IBA).

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