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domingo, 30 de novembro de 2014

Journal Club IBA: Macrófago residente ou recrutado da medula óssea: who is the bad guy?


Figura 1 - Macrófago recrutado da medula (vermelho), reconhecendo nódulo de Ranvier (setas branca e preta).

Atualmente, tem se tornado cada vez mais estabelecido que existem duas populações bem distintas de macrófagos: uma população de macrófagos teciduais, oriunda de células progenitoras provenientes do saco vitelínico; e outra população de macrófagos derivada de monócitos, que por sua vez são recrutados da medula óssea (ref.). No entanto, o papel dessas subpopulações em um processo inflamatório permanece obscuro, principalmente pela dificuldade em se distinguir uma população da outra, seja por marcadores de superfície ou pela sua morfologia. No contexto da esclerose múltipla (EM) por exemplo, que é uma doença auto-imune caracterizada pela destruição progressiva da bainha de mielina de neurônios no sistema nervoso central (SNC), sabe-se que os macrófagos são as principais células responsáveis pela destruição da mielina. No entanto, a origem desses macrófagos patogênicos, ou seja, se são derivados de células da micróglia residentes do SNC, ou se são derivados de monócitos infiltrantes, tem sido um assunto bastante discutido pela comunidade científica. No entanto, Yamasaki e colegas (aqui) finalmente conseguiram distinguir essas duas subpopulações em um modelo de EM e demonstraram que macrófagos derivados de monócitos (do inglês, monocyte-derived macrophages, MDMs) são as células responsáveis pela destruição da mielina, enquanto que macrófagos derivados da micróglia (do inglês, microglia-derived macrophages, MiDMs) possuem uma supressão no seu metabolismo celular e na transcrição de genes durante a doença, e parecem desempenhar um papel apenas de recrutamento celular. Utilizando das mais diversas tecnologias, como microscopia confocal, serial block-face scanning electron microscopy (SBF-SEM – vídeo demonstrando como essa tecnologia funciona aqui) e posterior reconstrução 3D, os autores demonstraram de forma muito elegante que a destruição da mielina foi iniciada por MDMs, frequentemente nos nódulos de Ranvier (Figura 1), enquanto que os macrófagos residentes (MiDMs) não foram encontrados nesses locais. Analisando-se o perfil de expressão gênica dessas duas subpopulações, foi observado que MDMs e MiDMs possuem perfis bem distintos de expressão gênica. MDMs expressam genes relacionados com funções efetoras, como produção de eicosanóides, prostaglandinas, lipídeos, fagocitose e clearance celular. Em contrapartida, MiDMs apresentam um perfil de expressão gênica com características de um estado metabólico suprimido, com repressão de diversos genes relacionados à organização de citoesqueleto, entre outros. Em suma, a distinção precisa entre macrófagos residentes do SNC e recrutados da medula óssea pode contribuir para um melhor entendimento de diversas patogêneses do SNC, como acidente vascular cerebral (AVC) e traumas cerebrais, levando por sua vez (hopefully!) ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas.


Post de Frederico Ribeiro e Leonardo Lima (doutorandos IBA – FMRP/USP)

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