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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O estroboloma




Um sintoma claro do progresso da imunologia é que abandonamos (espero de uma vez por todas) o narcisimo celular. Nos últimos anos estudamos muito as divas imunológicas falando entre si. No centro do palco estavam as células T, que governavam olimpicamente a imunologia. Hoje começamos a olhar pro resto do organismo e a entender que não estamos sós. Começamos a tirar o olho do umbigo, a entender melhor como, e com quem,  vivemos.

A cada dia que passa fazemos avanços consideráveis nesse entendimento. Abra qualquer revista ultimamente que voce vai encontrar o tal do microbioma. O microbioma é o nosso Bóson de Higgs. E, sinal claro de que o microbioma está virando moda, já comecou a aparecer subset. Agora o subset, literalmente, de merda, se chama o estroboloma.

Sério.

Eu não tinha ouvido falar nisso até semana passada. Dei uma revisão de Martin Blaser sobre microbioma e cancer pra Thais Herrero discutir no nosso JC. Fomos ler o artigo e descobrimos o tal do estroboloma.

A reza é mais ou menos assim. Os hormonios sexuais que nos dão as características sexuais que nos encantam, e escravizam, acabam dando um certo preju, uma vez que contribuem descaradamente pra aumentar o risco de cancer. Isso porque in the long run, eles favorecem a proliferação celular, e como tal aumentam o risco de malignidade. Como a gente não esta programado pra viver tanto, bote estrago nisso.  Veja a estória: o estrógeno, hormonios sexual que existe em abundancia nas mulheres é produzido primariamente pelos ovários. Dá graça e fertilidade as mulheres. Na menopausa, a sua produção cai muito, o que leva a vários transtornos. Num passado recente, muitos médicos faziam reposição hormonal pra tratar esses transtornos, mas isso foi discontinuado quando se descobriu que isso aumentava o risco de cancer de mama. Tambem se descobriu que muitos tumores eram dependente de estrógeno (daí o uso de antagonistas de estrógeno, como tamoxifen). Como tudo na vida, o estrógeno tem seu lado bom e seu lado não tão bom. O que acontece é que a fisiologia esta aí para manter os níveis de estrógeno in check. E como é que esses níveis ficam em check? Ora, o hormonio é excretado pela urina e pelas fezes. Pra ser excretado o estrógeno precisa ser conjugado. Isso acontece primariamente no fígado, onde ele pode ser metilado, sulfonado, etc. Daí, ou volta pra circulação e é excretado pela urina, ou é excretado na bile. Isso daria um fim beleza pro estrógeno, só que existem umas bactérias no intestino que são capazes de desconjugar o estrógeno. E aí já viu: o troço volta pra circulação. Moral da estória: esse conjunto de bactérias que tem a propriedade de desconjugar o estrógeno se chama estroboloma. Quando li, imediatamente gostei. Claro. O nome em si so já é estrambótico. Blaser não sabe que estroboloma é um troço engracado em portugues. Não sei porque, mas que é engracado é. Fiquei o dia todo com a palavra na cabeça.

A atividade dessas bactérias, do tal estroboloma,  poderia em tese, influenciar os níveis de estrógeno na circulação, e, esticando, esticando, influenciar o desenvolvimento de cancer… E talvez autoimunidade. Veja, estamos carecas de saber que certas doenças autoimmunes como tireoidite, lupus, etc são muito mais frequentes em mulheres que em homens. Será o estroboloma? Digo, seriam essas doencas influenciadas pelo microbioma? E se tal, seriam essas doenças influenciadas por bactérias capazes de afetar os níveis de hormonios, em vez de resultarem de cambios em subsets imunologicos, como o Th17 (até ontem a célula du jour?). Ou seria tudo junto?

Talvez com esse negócio de estroboloma Blaser esteja certo. Vamos ter que testar o tal do estroboloma. E provar que tá errado. Mas que a idéia é provocativa é. E se for certa, e tiver importancia, volta a provar, estramboticamente, o que Humboldt dizia: tudo é interconectado…

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